Eu estava realmente cheia de energia! Pulsando! Vibrando! Até agora quando lembro desse momento sinto uma força deliciosa me atravessar!
Quem já viu o espetáculo sabe que uso uma panela elétrica em cena, na qual é feito o risoto. Eu levei a minha panela por medo de usar uma diferente e algo dar errado. Precisei de um transformador e extensão para fazê-la funcionar aqui, mas isso foi fácil de resolver. Testei umas três vezes durante a tarde e ótimo! Funcionava!
Maaaaaassss… ela puxa bastante energia, consome bastante! E, durante o espetáculo, liguei a panela e em quatro minutos (ou menos) a energia veio abaixo. Ops! É tudo que eu lembro de ter falado. De fato, minha vista escureceu, não lembro bem das coisas que falei nesse momento. Mas não deixei o jogo cair! Logo a plateia já acendeu as lanternas dos telemóveis, eu perguntei se estavam me vendo, se eu podia continuar e todos responderam que sim, me dando força para seguir e, acima de tudo, curiosos com o que viria a seguir.
Ói que lindeza! Olha bem, tá todo mundo rindo, gente!
Entendi que se eu ligasse a panela de novo, a energia voltaria a cair. Então, avisei logo que eu faria o espetáculo como ele é, mas não teríamos a comida. Mas depois, pensei, caramba, vocês vieram para comer, certo? Precisa ter a comida! Minha dramaturgia é assustadoramente dependente dessa receita que faço em cena!
Nessa fração de tempo de segundos, lembrei que a Eva do Festival tinha levado para mim um fogareiro elétrico e uma panela normal. Que eu decidi não usar com medo de ser muito diferente da minha panela…. ai ai ai, eu e esses medos!
Chamei um dos técnicos, o Diego que estava sentado na primeira fila e ria muito. Pedi pra ele pegar a panela substituta e ligar pra mim! Ele fez isso tão rápido que quando pisquei já estava tudo no lugar. A energia a essa altura também tinha voltado. Um milagre ter uma panela reserva! Normalmente eu não tenho uma panela reserva! Foi a primeira vez que precisou e a primeira vez que tinha (ufa)!
A plateia toda ainda estava ali, comigo, querendo me ver chegar ao final do espetáculo. E continuei. Não lembrava onde tinha parado, perguntei ao público, fiz piada com o fato de ninguém saber. Enfim, fiz piada de tudo, e segui! Normalmente, se é que se pode acreditar em alguma normalidade nesse contexto.
E foi incrível! A plateia ria muito! Improvisei bastante. Brinquei muitas vezes com o fato de ter ficado sem luz. Tive ajudantes em cena que foram um espetáculo a parte. A primeira, a Dani, minha souzchef! Recorri a ela em vários momentos e ela foi incrível. Depois eu soube, Dani é brasileira e também é palhaça!
E depois eu ainda precisaria de alguém para jogar tênis comigo. Esse alguém que também é o primeiro a experimentar o risoto no final. Chamei um rapaz que parecia não falar português. Perguntei, espanhol? Inglês? Francês? Negativa para todas, falei “vem que a gente se entende, na linguagem do amor!”.
O nome dele era Paulo, pelo menos foi isso que eu entendi! Ele foi ótimo! Jogou lindamente com todas as brincadeiras do tênis! Sentou para comer, comeu e quando eu perguntei se estava gostoso eu ouvi um “boníssmo!”. Sim, o Paulo na verdade era Paolo e era italiano! CHAMEI UM ITALIANO PARA COMER RISOTO! Falei isso enquanto caia no chão meio que desmaiando! A plateia veio abaixo, óbvio! Foi um dos momentos mais engraçados! E ele gostou de verdade!
Paolo ❤
Até esse momento eu não tinha certeza se o fogareiro estava funcionando, não sabia se ir dar certo a receita. E tirando que ficou um pouco salgado, foi o melhor risoto que eu já fiz! Inacreditável!
Encerrei muito feliz! Fui muito aplaudida (algumas pessoas até levantaram). Foi incrível! Já estava muito satisfeita com o meu trabalho! Muito agradecida por cada presente do universo! Sim, considero a queda de energia um presente do universo. E a forma que eu lidei com ela me mostra que eu sou, de fato, boa no que eu faço e estou preparada para enfrentar muitas coisas (é muito difícil escrever isso. Sou uma dessas pessoas com dificuldades de enxergar meu próprio valor. E no momento que escrevo isso logo vem um diabinho no meu ouvido “nossa, tá se achando”).
Incrível! Cheguei ao final!
Para aumentar ainda a minha alegria, fui muito abraçada! Por palhaças conceituadas que gostaram do meu trabalho, por palhaças que estão começando e me disseram que sou uma inspiração, por pessoas da cidade jovens e crianças que gostaram do trabalho. E por muitas pessoas que queriam muito comer o risoto, mas não conseguiam porque eu levei poucos garfos.
Enfim, foi um momento muito especial! Uma linda estreia fora de casa! A primeira vez fora do Brasil! E, pra ser sincera, foi a primeira vez fora de Londrina! E o festival estava só começando para mim! Muitos outros momentos lindos estavam por vir…
Mas, fica pra próxima! Hehe!
(Continua)
Como alguns comentários que vi…está parecendo série da Netflix, cheio de suspense e carregado de muita emoção, e aquela sensação de quando vem a parte 4. Estou aqui lendo com um nó na garganta, com uma vontade de chorar de felicidade, de emoção e de muito orgulho de você.
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Chorando aqui de ler esse monte de coisas lindas que te aconteceram!
Amo vc e sua força, coragem e talento!
Volta, Frida!
Que lindo o relato do hospital!
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Gente passou varias partes do espetáculo na minha cabeça….ameiiii e quero ver novamente e vc não é boa não vc é Foda no que faz…..👏👏👏👏 super orgulhosa de vc. Sei de tudo que passou, que vez, de sonhos e agora dessa realização profissional incrível….parabéns e ainda vem muito por aí….
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